A Leveza da Barricada de Paulo Luís Almeida é a próxima exposição do ciclo O desenho contemporâneo em diálogo com a obra de Abel Salazar. Abre ao público no próximo dia 4 de dezembro pelas 16h00, na Casa-Museu Abel Salazar.
Segundo Paulo Luís Almeida A Leveza da Barricada “…é uma exposição que surge de um encontro inesperado: os desenhos que Abel Salazar fez das carvoeiras do Porto, por volta de 1938, e uma série de intervenções anónimas que tenho realizado desde 2007 numa zona limítrofe da cidade – o Bairro do Amial. A zona foi inaugurada também em 1938 pelo então Ministério das Corporações, como parte do programa de ‘habitação económica’ desenvolvido no Porto pelo Estado Novo.
Mais do que reagir à impressão da barreira criada pelos corpos sobrepostos das carvoeiras que Abel Salazar representou em cenas de rua, as intervenções coincidiram no cenário e na atmosfera dos desenhos: corpos, objetos e gestos comuns usados como tática de bloqueio e intimidação.
Os desenhos de “A Leveza da Barricada” são reencenações de ações súbitas, realizadas sem anúncio prévio nas ruas de acesso ao bairro entre 2020 e 2021, com o propósito de interromper momentaneamente os espaços e desacelerar os fluxos que o atravessam. Algumas destas intervenções são variantes poéticas de manobras usadas em barricadas urbanas e manuais de gestão de ordem pública. Outras são iterações de estudos de gestos que se encontram no arquivo de Abel Salazar, deslocados e reinscritos noutro contexto perfomativo.
As figuras foram reencenadas para os desenhos na suprema ficção de que o espectador pode não existir, no estado limite da representação que Michael Fried qualificava de absorção.
São desenhos alimentados pela minha experiência do que aconteceu, mas indo para além dela, ao cruzarem elementos factuais com ficções plausíveis.
Gustave Flaubert sugeria que o prazer se encontra primeiro na antecipação e depois na memória. Ao aparecerem antes e depois das ações, estes desenhos seguem uma lógica semelhante: a antecipação da ação e a memória da ação são por vezes mais importantes do que a ação em si.
Paulo Luís Almeida nasceu em Moçambique. É artista, professor associado na FBAUP e investigador no i2ADS – Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade. Há alguns anos começou a realizar pequenas ações baseadas na observação e disrupção de gestos e atividades quotidianas. Estas intervenções não saiam do espaço doméstico da casa e da rua onde vivia, nunca eram anunciadas e raramente documentadas. Percebeu depois que as podia desenhar para evitar a exposição pública das intervenções e contornar a impossibilidade da sua realização; que o desenho podia ser uma forma mais íntima e radical de as pensar, realizar e documentar.
Esta relação entre as práticas do desenho e os contextos performativos passou a contaminar o seu trabalho, um ensaio visual contínuo em torno de micronarrativas do quotidiano (algumas das quais sem outra pretensão que não seja a de inventar fábulas para a vida de todos os dias). O trabalho, que se desdobra em desenho, pintura e performance, resulta de noções muito simples: a noção narrativa de prova; a transferência e o deslocamento de gestos quotidianos; o desenho como gesto social.
Com curadoria de Sílvia Simões, a exposição A Leveza da Barricada ficará patente na Casa-Museu Abel Salazar até 29 de janeiro de 2022 e a entrada é gratuita.
Horário: segunda a sexta: 9h30 – 13h00 / 14h30 – 18h00; sábado: 14h30 – 17h30
Encerra aos domingos e feriados
Para uma visita segura, a entrada é condicionada a vinte visitantes em simultâneo. É obrigatório o uso de máscara facial e desinfetante para as mãos.